sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Indescritível...

Esse é o sentimento que estou tentando transportar para o papel... Angústia, tristeza, desânimo, cansaço, indignação, revolta, incompreensão...
Chega um momento em que paramos para refletir qual o nosso papel na sociedade, no trabalho, na vida e de repente percebemos que, ou não temos função nenhuma, ou somos muito incompetentes. Pelo menos foi assim que me senti essa semana... inútil...
Observei tudo ao meu redor e comecei a repudiar todas as formas de corrupção, os acidentes estúpidos, o descaso dos pais com os seus filhos, a quantidade de crianças sendo desprezadas, morrendo ou seguindo um rumo de completa irresponsabilidade na vida, já que nos faltam bons exemplos. O Brasil, inclusive, é um país pobre em heróis e dos poucos que existem muitos são uma farsa;
Convivo diariamente com crianças e adolescentes e percebo a falta de entusiasmo deles com a vida. Não digo que eles não gostem de viver ou que não o querem, pelo contrário, é um viver se conseqüências, sem discernimentos do certo e errado, bom ou ruim. Aí eu me pergunto: Onde está o problema da nossa sociedade?
Vivemos num mundo de grandes diferenças sócio-econômicas, onde a falta de respeito com o ser humano está em ascensão, onde o mais importante é o ter e não o ser, onde as pessoas estão cada vez mais isoladas e individualizadas, onde a falta de compromisso dos nossos governantes cresce a cada dia, onde o descaso com a vida se torna normal...
Lutamos por uma sociedade justa, humanizada, perfeita... mas se analisarmos a forma como encaramos nossa vida e como fazemos as coisas, perceberemos que somos tão corruptos quanto os nossos governantes. Pequenos atos de corrupção comparados aos grandes rombos nos cofres públicos, mas gigantes comparados com o reflexo que eles têm na sociedade. As pessoas não ficam mais indignadas ao assistir nos noticiários sobre pessoas que morrem de fome, pessoas que morrem vítimas de bala perdida, pessoas que perdem a vida em acidentes e assassinatos estúpidos. É algo normal, que faz parte do cotidiano e que as telenovelas fazem “muito bem” em nos acostumar com a situação. Tudo choca no início, aí vem a revolta e a relutância em aceitar, depois vem o cansaço em nadar contra a maré e por fim vem o descaso.
Analisando racionalmente os meus sentimentos essa semana, cheguei à conclusão que tudo isso me deixou com preguiça de fazer as coisas que fazem parte do meu cotidiano, de acordar, de trabalhar, de procurar fazer sempre o certo, o bom, de ajudar meus alunos a serem pessoas melhores e também aprender com eles, porque não sei até que ponto isso acontece. Precisamos de retorno em curto prazo, precisamos de estímulo e gás, um resultado de que estamos fazendo a coisa certa e de repente a gente pára, pensa, observa e percebe que esse retorno não vem.
Talvez eu esteja chegando à fase do cansar de nadar contra a maré e iniciando a fase do descaso, do deixar os problemas pra lá e viver sem remorso. Vixxx... E isso me preocupa muito...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ser bom amadurece a alma...

Atitudes de gratidão e de ingratidão jogam no nosso mundo um jogo bastante complicado, cruel e descontrolado. Essas situações antagônicas podem se inverter constantemente no dia-a-dia, tornando impossível qualquer reação racional das pessoas.
Há aqueles que nos querem bem num momento e passam a ter uma relação tensa e aflitiva conosco no minuto seguinte. Gente azeda, de repente, melhora o humor e é capaz até de iniciar uma conversa amável. O manso se revela irado, o ríspido se tranqüiliza, quem nunca nos cumprimentou no trabalho, um dia, pergunta, bem intencionado, como vai a nossa família... A elasticidade das relações humanas comporta tudo isso. Pessoas são misteriosas e complexas, amontoados de paixões e dúvidas, ódios gratuitos, prejulgamentos, decisões precoces, amores precipitados, admirações não tão consolidadas assim, invejas, cobiças, fragilidades, ingenuidades.
Para abraçar toda essa diversidade anárquica de aspectos, talvez fosse possível dizer conclusivamente: pobre ser humano, tão cheio de carências.
Isso mesmo, a palavrinha central é carência. Fantasmas que nos atrapalham, cegam e nos atrasam por todos os lados. Ilusão de que todos os outros, todos sem exceção, estão numa condição de vida mais interessante, mais rica, mais próspera, mais feliz, mais plena - e, sobretudo, menos carente - do que a nossa. Para nós, restou apenas uma gigantesca negação, ficou irremediavelmente tarde, não temos o ingresso, a senha, o mapa para chegar lá. Nós fomos preteridos, nos atrasamos, estamos perdidos. Somos os injustiçados e não há nada o que se possa fazer. Sobrou pela frente um deserto de carência que devemos percorrer entristecidos e vingativos. Que triste tudo isso.
A idéia forte que poderia substituir esse complexo de carência que algema e subjuga é a idéia de bom. Que avanço de amadurecimento para a alma se entendêssemos que ao nosso lado e atrás da gente está e vem quem nos fará bom (e não apenas bem!). O bom contagiando, o bom transbordando, o bom subvertendo as amargas vidas que se arrastam malditas por aí, o bom se espraiando e contaminando com sua força e qualidade o espaço do humano nessa terra de desventuras, traições e deslealdades.
Deveríamos investir menos energia na imensa carência de gostar e de ser gostado e empregá-la melhor, para impelir o bom: receber sua influência, exercitá-lo e dele estar à mercê. A sempre sábia sabedoria popular diz: com os bons te juntarás se queres viver em paz. Chega-te aos bons e serás um deles. Não há bom que não possa melhorar. Quem é bom de verdade faz os outros melhores.
Assim, se formos bons para alguém, com o melhor propósito, e o resultado for nefasto, não devemos esmorecer. Depois da tempestade vem a bonança, o bom tempo no mar: o sossego, a serenidade a tranqüilidade; essa é a tripla recompensa do bom. Mais sábio a indicar esse caminho virtuoso foi São Paulo (o Apóstolo, não nossa agitada e confusa cidade), na Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 13, "Hino à Caridade". Merece ser lido.
Marina Gold/ Especial para o Terra